A repetição das cenas do assassinato de 12 jovens estudantes nesta quinta-feira, 07 de abril, em Realengo, no Rio de Janeiro, pelos canais de televisão do país causaram espanto,choque e assombro.
Por vários minutos fomos tragados pelas imagens na tentativa de tentar compreender a violência do mundo que nos cerca. Somos engolidos pela necessidade de saber mais e mais, até o ponto de, ainda que minimamente, conseguirmos juntar algumas peças do quebra-cabeça da tragédia ocorrida dentro dos muros da Escola Municipal Tasso da Silveira.
Os motivos que levaram o assassino a atentar contra a vida dos pequenos, principalmente pequenas inocentes, jamais poderá ser completamente esclarecido. Ele os levou consigo. Ainda que tenha deixado uma carta, suas últimas palavras são ainda mais incompreensíveis. Não dizem “ a verdade”. Não trazem uma “explicação”. Pelo contrário.
O que a imprensa nos dá no afã desenfreado de noticiar, em primeira mão, os fatos antes da concorrência são fragmentos desconexos dos acontecimentos que em vez de informar criam um vazio na mente do telespectador. O vácuo do excesso que desinforma. A pessoa à frente da tela busca assim uma compreensão própria sobre o desenrolar da narrativa que vai sendo apresentada caoticamente pelo tubo de imagens. Hoje, pode ainda aprofundar essa busca nos sites de notícias na internet, mas o esgotamento é rápido.
Qual é o limite dessa busca? Até que ponto agüentamos ser atingidos por imagens de violência gratuita, de crianças ensangüentadas e desesperadas correndo para salvar a própria vida? De pais arrasados sem saber se seus filhos estão ou não entre as vítimas? Até que ponto a nossa necessidade de saber o que está acontecendo nos impulsiona a ficar de olhos arregalados em frente à televisão ouvindo o relato de crianças assustadas com o que presenciaram? O que queremos ver e ouvir? O que precisamos saber para moldar o nosso próprio entendimento?
Não precisamos ver os corpos dos pequenos alvejados. Não e ponto. Mas precisamos ver os que conseguiram fugir aterrorizados, cobertos de sangue sem sequer saber o que lhes ocorreu? Precisamos ler a carta de suicídio? Precisamos que ela seja repetidamente lida e mostrada? Precisamos ver o corpo do psicopata? Precisamos saber que ele está realmente morto? Que teve o que mereceu e que não atingirá outros inocentes? Mas quem decide isso?
Em um acontecimento como este, a mídia não tem tempo para julgar. Coloca a “necessidade de informar do público” em primeiro lugar e nivela por baixo a cobertura jornalística repetindo até a exaustão as cenas de horror, os gritos, a correria, o desespero, o terror. A tentativa de compreender o que se passa é soterrada. Somos anestesiados pela narrativa da violência. Entregamos o nosso entendimento, não necessariamente a nossa capacidade crítica, a outrem. No choque da tragédia, esperamos que nos digam o que aconteceu. Isso não implica uma explicação.
A mídia mostra, explora, revela, diz. Nem sempre consegue explicar. A barbárie, afinal, não tem explicação e tão pouco precisa ser entendida. Mas também não precisamos estar francamente expostos à sua face. Podemos simplesmente não assistir. A mídia decide o que é veiculada. Você decide se mantém a TV ligada, a internet conectada e qual é o seu nível de tolerância, porque de canal não adianta mudar.